Uma nova amizade
- Ele está sendo
perseguido? – Perguntou o Sultão, um pouco satisfeito. Estava sentado em seu
trono real. Diante dele um soldado mensageiro. O mesmo estava ajoelhado,
olhando para o chão.
- Como esse moleque
consegue? Ele tem apenas treze anos e consegue dar toda essa dor de cabeça? – A
voz de Mehmed II soava um pouco mais solene. O mesmo segurava o pergaminho com
menos ódio que sentira outrora. Estava trajando um pano que envolvia todo seu
corpo. Um cetim vermelho e sua coroa de realeza. O local era o salão real. O
mesmo tinha quase trinta metros quadrados, rodeado por soldados nas laterais em
pé. Todos segurando lanças em posições de defesa, fazendo a proteção do seu
rei.
O mensageiro ouviu e
pensou: Ele é mais esperto que todos nós,
que todos nós. Mas é claro, ele apenas pensou, não ousaria dizer algo
daquele tipo em voz alta. Sabia que se falasse, seriam suas ultimas palavras.
- E o mais novo? Onde
ele está?
- Está na biblioteca,
lendo os livros dos seus ancestrais meu senhor. – Respondeu o mensageiro, ainda
olhando para o piso branco.
- Este garoto é
idiota, mas ainda consegue ser tão esperto quanto Vlad. Ele sabe que se não me
dar dor de cabeça, ele não sofrerá. Garoto esperto.
~~
Os gorgulhos
abissais ecoavam pela mata escura. Os animais noturnos caçavam suas
presas, as presas que tinham sorte conseguiam escapar de seus predadores.
Aquelas que tinham azar sentia a dor da captura, a dor do bote dos seus
predadores. Era exatamente esta dor que Vlad estava prestes a sentir. Os
caninos finos iriam penetrar sua carne fina e talvez dilacera-lo, com pouco de
sorte, sairia vivo, mas a sorte iria acabar quando fosse entregue ao Sultão.
Estava exausto, cansado, quase desmaiando quando sentia o cheiro de pelo
molhado aproximando-se de si e segundos depois uma criatura escura com olhos
vermelhos ficando a sua frente.
Um
lobo? Isto é um lobo?
Sua visão era turva,
sua consciência estava fraca, entrou em um pequeno estado de vigília graças à
adrenalina que seu corpo criará ao ver aquele animal tomando a frente de si.
Estou enlouquecendo...Não...Isto é uma alucinação, como
um animal desse pode me
proteger? Por que está tentando me proteger?
Agora via o lobo
andando de um lado para o outro, mostrando os caninos enormes para os
cachorros, parecia estar feroz, furioso. Não
consigo entender.
Os cães treinados fitavam
e se preparavam para bote contra a criatura funesta.
O lobo não conseguia
entender o porquê de estar ali, protegendo aquela criança. Não reconhecia o seu
cheiro, nunca sentiu um odor familiar se quer, mas algo o impulsionava para tal
ato. Repentinamente os dois cães que estavam nas laterais avançaram, ágeis e
com precisão.
O lobo esperou cerca
de três segundos e avançou na direção do maior, primeira iria ferir o mais
agressivo, deixando-o ferido para depois atacar o menor. Ele era experiente e
sábio para sua espécie, era velho, mais velho que muitos homens.
Com sorte, teve êxito
e conseguiu atacar primeiro que a dupla. Ao aproximar-se de mais do cão maior,
abaixou-se impulsionou as patas dianteiras contra o chão, fazendo-o dar um
pequeno pulo de baixo para cima, abocanhado o pescoço do cachorro. Cravou os
dentes ferozes e sentiu o sangue quente descer por sua garganta. Era delicioso,
saboroso e prazeroso. Como era bom o gosto de sangue.
Caso Vlad pudesse
ver, iria notar os olhos vermelhos brilharem de satisfação.
O cão uivou de dor,
um uivo alto e agonizante, chamando a atenção de todos e tudo que estivesse por
perto.
Os olhos de Vlas
estavam quase fechados novamente, mas o rugido de aflição fizera com que um
arrepio o mantivesse acordado.
Ele realmente vai me proteger...Que animal é este?
Mas a sorte não
estava totalmente ao lado do lobo. O mesmo acreditou que ao acertar o seu bote,
o menor iria se afastar. Mas isso não aconteceu.
Sentiu as presas do
outro cão contra sua coxa direita traseira e virou rapidamente, acertando uma
mordida forte contra o rosto do cachorro. Os dentes perfuravam um dos olhos do
animal de pele branca e este caiu no chão chorando, um som agudo e irritante.
Meus ouvidos..Mate esse animal de uma vez.
O lobo olhou para
trás como se tivesse ouvido Vlad e o coração do garoto acelerou.
O animal negro deu um
pequeno salto contra o cachorro caído e dilacerou o pescoço dele, criando uma
enorme poça de sangue no chão. Os outros dois cães rodeavam-se o lobo enquanto
os outros dois estavam mortos.
Vlad sorriu. Como eu amo essa cor, este vermelho forte,
está cor que reflete a vitalidade.
Mas arregalou os
olhos quando um dos cães o fitara e voltara a rosnar para ele.
Não....Para mim não...Olha o lobo...Olha o lobo....- Pensou o garoto fraco
e cansado, incapaz de levantar-se novamente e correr.
O lobo se manteve
rodopiando lentamente, mantendo o mesmo ritmo do cão que o rondava. O garoto, tenho que proteger o garoto. Tentou
avançar em um bote mas sentiu a dor da sua pata traseira, era impossível dar um
bote eficaz e rápido, infelizmente teria que esperar o cão avançar para
esquivar-se e mata-lo.
Vlad olhou para os
lados, procurando qualquer coisa que pudesse usar para se defender caso o cão
avançasse contra si. Tudo que seus olhos negros e redondos viam eram pequenas
pedras e alguns galhos quebrados. Por
favor, não avance, não avance!
E fora exatamente
isso que o cão bravo fez, avançou e pulou em cima do garoto. Em um movimento
rápido defensivo, Vlad colocou o braço esquerdo por cima do rosto e em seguida
sentiu as os dentes ferozes do animal penetrando sua carne, chegando a seu
osso.
- NÃO! SEU FILHA DA
PUTA! ISSO DÓI, NÃOOO!
O garoto tentou mover
o braço, chacoalhar para o cão soltar e descobriu que isso seria uma péssima ideia,
já que os dentes do cachorro tinham penetrado sua carne.
Vou te mata-lo, não importa mais, vou te matar!
A dor era agonizante e com muita fúria e ódio Vlad fechou
a mão e socou a cabeça do cão. Após cinco movimentos percebeu que era inútil e
então olhou para o chão, pegando a maior pedra que conseguiu ver, levando
novamente a mão contra a cabeça do animal, mas dessa vez acertando a cabeça do
bicho com a ponta da pedra. Apenas três movimentos foram necessários para o cão
soltar seu braço e começar a gemer de dor. Com o mesmo braço que segurava a
pedra, jogou a criatura no chão e com
ferocidade e ódio, esmagou a cabeça do animal.
- MORRA!MORRA!
MORRAAAA!
O lobo negro não
podia mais proteger a criança, não por enquanto. Tinha que primeiro terminar o
assunto com o ultimo cão agora.
Humanos são tão inteligentes, mas sem armas, são tão
fracos e sensíveis. Ele vai ter que se virar.
Tentou dar um bote,
mas sentiu a carne da coxa repuxando, fazendo-o cambalear de dor. O cão a sua
frente era inteligente. Sabia que tinha certa vantagem, não tinha nenhum
ferimento e estava esperando o lobo atacar.
Repentinamente um
grito de dor fora ecoado pelo local.
Ele foi pego...
Segundos depois era o
gemido do cão que se podia ouvir. O cão diante o lobo se distraiu e virou um
pouco do seu corpo, podendo ver a situação.
AGORA!
Pensou o lobo e
avançou contra a jugular do cachorro, mordendo com todas suas forças a carne do
animal, movendo a cabeça de um lado para o outro, arrancando a carne do animal.
Não demorou e o cão
caiu inerte, morto.
Mas que diabos.
Naquele momento
sentiu certo orgulho. Entendeu o porquê estava sendo atraído pela aquela
criança. Ele não é um humano comum.
Vlad estava em cima
do cachorro, sua mão direita segurava uma pedra coberta de sangue. O chão era
uma verdadeira poça de liquido vermelho e a cabeça do animal estava totalmente destruída.
Os olhos do garoto
brilhavam de felicidade, de prazer. Ele respirava e fitava o animal morto como
se fosse um prêmio, como se fosse sua maior arte já criada. O braço esquerdo do
menino sangrava, estava mordida, um grave ferimento.
Ele soube se defender!
- AQUI! ELES ESTÃO
AQUI!
Vozes de humanos
foram ouvidas tanto pelo lobo, quanto pela criança. Mas antes que o lobo
pudesse se virar, ele sentiu dois espinhos penetrando suas costas.
Ele se virou,
cambaleou para trás, fraco, sentindo uma enorme dor, estava muito ferido.
- NÃO, NÃO O MATE!
NÃO O MATE!
Naquele instante,
dor, cansaço. Nada disso passou a existir, Vlad se levantou e correu para
frente do animal. Era a vez de ele protegê-lo agora.
- Mas que merda é
essa? Um lobo gigante? – Gritou espantando o soldado que almejava uma besta com
algumas flechas.
- Os olhos desse
animal, são vermelhos como sangue. Que demônio é este? – Murmurou outro
soldado. Eram cinco no total.
- Não o mate, por favor.
Me levem, mas não o mate! – Implorou o garoto, voltando a sentir o cansaço
querendo derruba-lo.
- VocÊs mataram todos
os cachorros? QUE DEMÔNIOS VOCÊS SÃO?
Gritou o líder dos
soldados, avançando até Vlad e o empurrando ao lado.
- Vou exterminar essa
criatura! – Disse enquanto levantava a lança que segurava, contudo, o lobo já
não estava mais lá, tinha desaparecido.
O soldado olhou para
Vlad que agonizava no chão, segurando o braço mordido.
- Vejo que sofreu
nessa fuga, espero que aprenda. Você não pode fugir de nós.
Agora Vlad estava
sentando em cima de um cavalo, sendo levado de volta para o Sultão. O que vai acontecer comigo? Meu deus, o que
vai acontecer comigo? E o lobo, como ele está?
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