X - A sentença.
- Ele foi pego? Ele foi capturado? – Exaltou o gordo Sultão, sentando em
seu trono mantendo agora um sorriso afortunado. Estava aliviado, satisfeito.
Caso Vlad III conseguisse fugir o Sultão estaria em um mal estado. A
alguns quilômetros de distância do castelo. Hungáros e Turcos travavam uma
sanguinolenta batalha, chamada depois de ‘’A cruzada de Varna’’.
Mehmed II manteve alguns soldados espiões nas terras de Valáquia e soube
que Vlad Dracul mandará seu filho mais velho, Mircea para o campo de batalha,
contra o seu exercito turco.
Traição? Jogo politico? Mehmed não soube ao certo. Informações que
chegavam até ele diziam que: O Papa praticamente obrigara o príncipe de
Valaquia se aliar aos cristões.
Cobrando de Vlad II o juramento que fizera anos
atrás a sua ordem cristã, A ordem do dragão.
Mehmed II ficara tranquilizado ao saber logo em seguida que o exercito
cristão fora simplesmente massacrado. João Corvino conseguiu escapar, mas de
forma nada honrosa, manchando para sempre a reputação dos cavaleiros brancos.
Mircea, irmão mais velho de Vlad também conseguiu fugir, mas a derrota dos
cristões para os turcos fazia o Sultão estremecer de felicidade. Estremeceu
ainda mais ao saber que o garoto tinha sido capturado. Vlad II não se envolvera
particularmente na batalha devido o estado dos filhos, Vlad III e Radu como
reféns. Caso um deles fugisse, uma morte seria um pequeno efeito colateral
diante uma grande vitória. Ou era assim que mehmed pensava, e acreditava que o
príncipe da valáquia também.
- Reúnam todos os servos, todos os soldados, todos ser vivo que habita
este castelo. Quero que nosso pequeno convidado tenha uma grande recepção. –
Seu olhar era maldoso e sua voz soava como uma maldição..
~~
Vlad estava cansado, machucado. A viagem de volta a sua prisão demorou
quase três dias. Eu andei isso tudo em um dia e meio? Não consigo
acreditar.
Passaram por todos os pontos de paradas que Vlad passara outrora. Principalmente
pela cachoeira, o local onde estava escondido o livro dos Não-Mortos. Não iria
esquecer aquele local, jamais. Gravou todo o caminho com toda sua memoria e
atenção. Assim que tivesse a oportunidade iria desenhar um mapa, para ter
certeza que quando tivesse a oportunidade
(fosse em outra fuga ou em liberdade)
iria passar pelo local.
Seus devaneios tinham um ritmo fraco e simples. Livro dos Não-Mortos e o
lobo de olhos vermelhos. Que criatura era aquela? Por que tinha o protegido?
Como Vlad pensava e ele agia? Como essas coisas poderiam acontecer?
Seu braço mordido pelo cão estava sangrando um pouco e tinha ficado
inflamado, mal podia mover o braço ou o cavalo dar um passo forçado e seu braço
doía. Era uma dor insuportável, como se tivessem cacos de vidros dentro de sua
pele, mas era apenas a inflamação.
Lembrou de seu irmão, de como tinha o deixado para trás. Não estava
arrependido, não mesmo. Ele fez a escolha dele e eu a minha. Não posso,
não devo me arrepender. Esta foi a minha escolha.
Imaginou que talvez, Radu estivesse sofrendo, pagando por sua audácia,
mas na verdade o mais novo estava limpo, descansado e rodeado de bons livros.
A viagem fora cansativa, eles paravam apenas seis horas no meio da noite
para dormir, tempo que vlad perdera mais da metade para conseguir fechar os
olhos, graças ao seu braço e aos pensamentos instintivos. Eu posso tentar
fugir, eu posso tentar correr. Mas no fundo ele sabia que apenas iria
‘’tentar’’, infelizmente o conseguir estava fora do seu alcance. Ele fora mordido,
estava com fome, exausto, sem dormir. Não ia conseguir fugir.
Às vezes conseguia cochilar em meio a cavalgada, já que as enormes
árvores recheada de grandes galhos e folhas cobriam os céus, deixando pequenos
flashes de luz passar entre os pequenos espaços de uma folha e outra.
Naquele momento ele estava sentado, sentindo o andar do cavalo e quase
dormindo. Os olhos estavam fechados mas suas orelhas (por mais que ele
estivesse quase dormindo) estavam atentas.
- Abram os portões! – Ouviu um dos soldados que o escoltara gritar.
Essa não....Chegamos...
O barulho do enorme portão de pedra sendo erguido fora captado por suas
orelhas e ele abriu os olhos. Voltou a fitar aquela entrada de pedra com
esculturas demoníacas e um frio passou por sua espinha. Fazendo todo seu corpo
arrepiar-se.
Cavalgaram até a entrada do pátio e um soldado veio ao encontro deles.
- Vlad Tepes III, que bom que está de volta!
Vlad abriu os olhos e fitou aquele soldado. Como odiou o tom de ironia e
sarcasmo do homem e quis mata-lo, quis enfiar os dedos na boca dele e
arrancar-lhe a língua.
O garoto não respondeu, simplesmente aceitou a ajuda para descer do
cavalo e esperou.
- Temos uma grande recepção para você!
Vlad olhou para o lado e pra cima, voltando a olhar o soldado
maior que ele.
- Recepção? Isso não é uma visita.. Eu fui capturado, estava fugindo!-
Sua voz foi baixa e rancorosa, como se estivesse arrependido do que fizera, mas
talvez estava, se não fosse a descoberta. Preciso encontrar o velho
depois. Se eu não morrer é claro.
Vlad fora escoltado até o portão principal. Olhou o mesmo sendo aberto e
atrás dele, dezenas de soldados, serventes, escravos e todo tipo de pessoa que
habitava o castelo, dentro do salão principal, olhou Radu sentando ao lado da
esposa do Sultão e sentiu-se traído, trocado. Seu maldito, sua
mocinha....
Mordeu os lábios de ódio, dessa vez queria ter outra oportunidade para
dar um soco no peito do irmão. Mas dessa vez iria mata-lo.
O sultão estava em seu trono e levantou, caminhando em direção de Vlad.
- Vejam meus soldados, meus escravos, meus servos. Vejam este pequeno e
ousado garoto.
Vlad não abaixou a cabeça, permaneceu fitando o sultão.
- Vejam ele está sangrando, está machucado, gravemente ferido.. Tudo
isso pelo que? Pela tentativa falha de fugir dos meus aposentos. Sendo que ele
foi entregue pelo próprio pai!
O garoto sentiu um soco no seu estomago. Como se cravassem uma espada em
seu coração. As palavras dele...São verdadeiras, não tenho o que
contestar
Conforme o sultão se aproximava do garoto, ele aumentava seu sorriso
insano e maldoso.
- Vejam vocês com seus olhos! – Parou na frente do garoto, aumentando o
tom de voz – O que eu vou fazer com o VLAD TEPES III, filho de VLAD DRACUL
TEPES II
O Sultão rapidamente levou a mão gorda contra o rosto do garoto,
esbofeteando com força, fazendo-o cair para trás. Vlad sentiu a dor, sentiu a
humilhação e depois sentiu os dedos do gordo segurando seus cabelos.
- Vejam no que vou transformar esse grande garoto, ousado e forte.
Assassino de canibais da montanha. – gritava enquanto começava a arrasta-lo.
Vlad levou as mãos até os pulsos dele, ignorando a dor agora do braço
inflamado, tudo para parecer menos humilhante enquanto ela puxado em direção de
uma porta.
- Minha mulher! – Gritou para sua esposa – Eu a amo, eu sou fiel a você.
Mas o castigo desse garoto será perder sua honra, irá perder seu orgulho. –
Vlad sentiu seu coração apertar, sentiu uma enorme angustia. O
que ele quer dizer com isso?
- Vou faze-lo pela primeira vez na vida dele ele se sentir com vergonha,
humilhado. Vou faze-lo de minha mocinha!
Naquele momento todo o silencio do local fora acabado, vozes de la para
cá podiam ser ouvidos, gorgulhos, risadas, chingamentos. Todo tipo de besteira
contra o garoto. Vlad olhou para a mulher do Sultão e ela sorria, satisfeita
com o castigo. Eu não posso acreditar nisso, eu não acredito nisso.
O sultão parou diante a porta e abriu a mesma. Vlad descobriu que ali
era o quarto de algum criado e descobriu que nunca deveria ter tentado fugir.
~~
Adrianópolis – Estado Otomano
- Padre Shaft, padre Shaft! – Gritou uma menina de doze anos, sua pele
era branca e seus cabelos eram ruivos.
O padre alto, um pouco moreno e careca olhou para a jovem garota e
sorriu.
- Diga minha pequena, o que está fazendo aqui? – O mesmo tinha um voz
forte e calma.
- Minha mãe... Não sei onde está minha mãe! – A menina dizia em um tom
inocente, mostrando que estava realmente perdida.
Os dois estavam diante a porta do monastério. O local era rodeado por
árvores que davam direto a grande floresta.
- Vamos, venha comigo, vou ajuda-la a encontra-la.
A garota caminhava em direção do padre que realmente, tinha a intenção
de ajuda-la, mas repentinamente um barulho no meio do mato fizera com que ela
parasse.
- Não se preocupe minha garota, deve ser apenas um coelho, venha até
mim! Vamos procurar sua mãe!
A garota estremeceu, olhou para trás e infelizmente descobriu que o que
estava dentro da mata não era apenas um coelho. Coelhos não tinham olhos
vermelhos como aquela criatura e não se movimentava de forma solene como aquele
enorme lobo.
O padre se assustou e ao mesmo tempo se surpreendeu
Esses olhos vermelhos, essa pelugem negra.. É o diabo, o diabo veio até
mim!
Repentinamente o lobo pulou em cima da garota, ele estava sangrando e
tinha flechas por seu corpo. O lobo mordeu no pescoço da menina e deixou as
patas por cima dos braços frágeis da garota. Tirou um enorme pedaço de carne do
pescoço da menina e comeu, bebendo também todo o sangue que jorrava.
O padre Shaft permaneceu inerte, não sabia se estava com medo, se estava
triste pela morte ou feliz pela descoberta.
Isto é um sinal...O diabo veio até mim...Ele não vai me matar, ele não
me quer como inimigo, ele me quer como aliado.