sábado, 30 de novembro de 2013

Conto: Metamorfose Assassina

Metamorfose Assassina

- Você acredita muito em histórias de crianças. Bruxas não são imortais..Elas morrem. - Resmungou Duncan, enquanto a pequena garota de pele alva se entrelaçava entre seu braço direto.
- Duncan...Eu sinto...Eu posso sentir..Não sou uma filiorum...Mas posso sentir onde o mau existe.

O moreno de pele alva e cabelos castanhos cacheados olhou para a pequena ao seu lado. Observou o semblante jovial da menina ao seu lado e simplesmente sorriu. Pensou em responder. Explicar que nem tudo que sentíamos iria acontecer. Mas os olhos inocentes daquela garota o hipnotizará. Talvez ela estivesse certa. Duncan nunca fora capaz de manifestar algum poder sobre a sua áurea. Manipular seu poder espiritual para qualquer fim mágico. Contudo, sua mente era constantemente infestada por desejos e violentos e mórbidos.

Ela pode aparecer, ela já está morta..Não está? Então...Não vejo problema em morrer de novo.

- Apenas fique do meu lado. Eu te protejo. - Murmurou, abaixou a cabeça e encostou os lábios na cabeça da garota, beijando-a instantaneamente. Betha sorriu, aconchegando-se contra Ducan. Era exatamente naqueles momentos em que o adolescente descobria o valor da felicidade.

A lua reinava no céu obscuro, sendo a única orbe que iluminava o vasto pedaço da terra. Contudo, a luz do luar era praticamente nula naquela floresta lúgubre. As enormes árvores com mais de trezentos anos bloqueavam com seus galhos toda luz emanada pela soberana da noite.

Aquela floresta era conhecida como a casa de uma antiga bruxa, Lena. Os anciões das regiões próximas diziam que, naquela floresta, existiu a donzela da escuridão. Uma bruxa solitária, fria e sedutora que manuseava os homens para seu bem próprio. Os bruxos acreditam que nossa essência está na nossa alma. Quanto mais forte a sua alma, mais longa será a sua vida.

O caminho era por onde caminhavam era repleto de galhos secos e quebrados, fazendo com que a cada passo, seus pés firmes quebrassem as madeiras secas, quebrando o silêncio da noite com seu tom seco.

~~

- Você pode não acreditar em mim, mas a bondade sempre sente quando o mau estar por perto. Disse Betha, sentada em frente a fogueira. A mesma trajava uma espécie de sobre tudo marrom escuro. O marrom, quando a mesma estava em pé, chegava até seus pés. Agora como Betha estava sentada, o pano apoiava-se contra o chão. A garota tinha uma pele morena e frágil, seus olhos redondos e pequenos tinham um leve castanho, assim como seus cabelos cacheados.

- Não se preocupe com o mal Betha..Eu posso lhe proteger de qualquer tipo de mal.. - Duncan estava deitado ao lado da garota. Logo à frente deles uma pequena fogueira queimava os pequenos talhos de madeira seca, fazendo alguns estralos constantemente.

- Você vai mesmo dormir? - Voltou a perguntar a garota, levando os olhos para Duncan. O adolescente já estava com os olhos fechados. Esperou mais alguns segundos e nada. Nenhuma resposta do seu companheiro de alma.

- Duncan? - Betha voltou a chamá-lo, mas dessa vez um pouco irritada e triste. - Duncan...Você não dormiu né...Não acredito que me deixou sozinha...Duncan....- Rapidamente a garota fechou os olhos e deitou sua cabeça no peito másculo do adolescente. Estava revoltada, brava e com medo.

 
~~

A minha visão turva é o único sentindo capaz de me auxiliar nesse momento. Não sinto meu corpo, sou capaz de pensar e ver. Apenas isso. Pareço estar vendo de cima, algum tipo de sentença. Três pessoas estão rodeando uma mulher de pele negra e longos cabelos negros, no estilo dreads. As pessoas vestem trajes vermelhos que cobrem todo seu corpo. Na cabeça um capuz ponteagudo da mesma cor, contudo mais escura. A mulher negra parece estar deitada no meio de uma hexagrama, seus braços e pulsos parecem estar presos contra o solo, já que a mesma se debate, contorça-se, mas seus pulsos e pés não se movem.

Agora, o menor dos homens joga no corpo nu da mulher negra algum líquido enquanto os outros levantam suas mãos aos céus. Uma espécie de preces. O menor deles rodeia a mulher, ainda jogando o liquido, mas dessa vez ao redor dela, formando um círculo perfeito.

Repentinamente ouço uma voz feminina e suave, contudo rancorosa. - Veja o que eles estão fazendo comigo! - A mulher negra para de se contorcer e mira seus olhos escuros e sombrios para o céu...Não..Para mim...Ela está me fitando..

Não pude ver quando ou como começou. Mas de repente uma enorme torre de fogo engoliu a mulher negra, transformando sua pele escura, em um pedaço de carne queimado. Ela não se debate, não grita, apenas fica parada enquanto seu corpo é consumido pelo fogo. Mas ela nunca tira os olhos negros dos meus.

~~



- Nãooo! - Duncan acordou desesperado, seus olhos negros pareciam alucinados. Caçando de um lado e outro, contundo não achou nada. - Apenas um pesadelo. - Murmurou, olhando pro seu lado, um pouco mais tranquilo. Mas voltou a se assustar quando percebeu que Betha não estava ao seu lado.

- Betha! - Disse em tom de voz suave, não muito alto. Era noite, as nuvens cinzas impediam que a lua iluminasse os céus, fazendo com que a única iluminação fosse a pequena fogueira quase extinta.

- Betha..Sem brincadeiras. - Voltou a dizer um pouco mais alto. Mas como da primeira vez, não teve resposta. Ela não foi muito longe, não pôde ter ido muito longe. Ela tem medo de corujas...Ela não iria enfrentar essa mata escura..Não mesmo. - Pensou Duncan, fechando os olhos e bocejando. Ainda estava com sono, tinha acordado graças ao olhar frio da mulher, queria voltar a dormir. Mas era impossível agora.Tinha que ir procurar sua companheira.


Levantou, pegando a tocha e tirando-a da fogueira. Nesse mesmo momento descobriu que a única coisa que fazia com que o fogo se mantivesse vivo, era exatamente a sua tocha, já que a fogueira ficava apenas nas cinzas, e o fogo subia com a tocha.

Não acredito que ela realmente teve coragem de sair de perto de mim..

Caminhou para frente, dando um passo depois de outro. Minutos depois estava a alguns metros de distância. - Betha..Bethaa...Cade você Betha? - Murmurava enquanto caminhava pela mata fechada. Cuidadosamente esquivava-se dos galhos das árvores. Sempre deixando a tocha abaixada, aquilo o incomodava. Se fosse alguma criatura noturna não iria precisar de luz. O fogo era uma boa proteção contra animais noturnas e para iluminar o caminho. Mas também fazia dele alvo fácil, caso houvesse maniacos, procurando peças para suas brincadeiras.

- SOCORRROOOO!

Duncan fechou os pulsos contra a tocha ao ouvir o berro de desespero. Betha? Pensou. - SOCORRO! - Alivou-se ao perceber que aquela não era a voz de sua amada, mas assustou-se ao reconhecer aquela voz.

- DUNCAN!! SOCORRO! - Estremeceu quando escutou a mulher chamar seu nome e sentiu o medo crescer em seu interior. É a mesma voz da mulher negra..Mas..Como...Como isso é possível?

 
Duncan relutou. Manteve o corpo parado, os pés fixos só chão. A dúbia repentina criava uma torrente de pensamentos. Mas qual exatamente seguir?

Surpreendendo-se com sua própria atitude, correu em direção da voz. Os olhos atentos aos poucos começava a enxergar um fragmento de luz, uma pequena esfera e em seguida uma fogueira. Primeiro menor que a dele, segundos depois dez vezes maior.

Logo estava fora de mata, adentrando o corpo de grama cerrada. Aproximando-se lentamente da fogueira. Os olhos negros surpreenderam-se ao ver uma pequena movimentação dentro da fogueira. A silhueta tinha traços pequenos, algo parecido com dedos finos e logo depois transformou-se na imagem de um braço. Em seguida outro.

Duncan aproximou-se cautelosamente. Agora não sentia mais medo, sentia curiosidade e certo interesse por aquilo. A criatura queimada rastejava pelo chão, murmurando baixo de mais para o adolescente discernir algo. A pela da mesma estava queimada e o adolescente podia sentir facilmente o cheiro de carne queimada no ar.

Chegando perto do adolescente, a criatura virou-se, fazendo com que as curvas do seu corpo indicasse à Duncan que era uma mulher.

- Betha?- Perguntou assustado.


A mulher levou os olhos negros aos do adolescente. E ele soube que aquela não era a sua companheira de alma. Sentiu-se aliviado, contudo um pouco perturbado. Como uma pessoa conseguiria suportar aquela dor? Se rasteja, ser queimada viva e ainda respirar?

 
Duncan retribuiu o olhar. Olhando-a fixamente. Era confortável vislumbrar aquela mulher daquele estado. E por um rápido momento ele teve a impressão de que aquilo era preocupante. Estou gostando de ver isso...Ele pensou.

Sim...Está..E não te culpo...- A voz da negra ecoou em sua mente. Dessa vez ele não se surpreendeu, apenas continuou pensando. Como pode saber o que eu penso? Por que você me chamou?
 
Sei muito mais de você, que você mesmo Duncan..Sei o que você é de verdade. - Respondeu a mulher em pensamento e Duncan mostrou-se um pouco abalado. Ajoelhou-se diante a criatura queimada e continuou a fitá-la.

Eu sei dos seus desejos sórdidos. Eu sei que você realmente quer fazer mas não pode..Você tem algo que te impede..Você não pode ser você...Por que precisa proteger. - A voz da mulher pareceu aumentar dentro da mente dele. Fazendo com que as ultimas palavras ecoassem em sua cabeça. Proteger...Era exatamente a palavra correta. Duncan vivia para proteger Betha, sua companheira frágil e fazia o que realmente queria fazer. Não poderia, quando duas almas estão interligadas, o que uma faz a outra também paga. Se ambos não forem fortes do mesmo nível, a queda de um leva a do outro.

Duncan sentia-se em uma jaula em certos momentos. Um monstro confinado a ser dominado, encoleirado e forçado a agir como um cordeiro. Não vê que precisa ser o que tem que ser?

- Eu preciso encontrar Betha...-Sussurrou o adolescente se levantando, lembrando-se do seu objetivo primordial.

Ajude-me..Preciso de sua ajuda..- A voz dela dentro de sua cabeça voltou a assombrá-lo e novamente ele se viu confuso. - Ajude-me e a sua recompensa será aquilo que sempre sonhou. Melhor..Eu vou dar primeira a sua recompensa...

- Como eu posso...Como posso te ajudar? Preciso encontrar Betha... - Duncan olhou para frente e olhou para a fogueira quase do seu tamanho.

Traga-me à vida. Dê a mim uma alma e um corpo. Que eu lhe darei a chance de ser você mesmo!

Naquele instante Duncan viu três silhuetas em meio ao fogo. Cada um em uma posição distinta, todo pareciam estar fazendo coisas diferentes.

- Uma vida? Uma alma?
Primeiro eu vou lhe dar a recompensa. Sinta o gosto do poder, tenha em mãos o liquido da vida e depois dê a mim uma reposta.

Duncan continuou inerte, olhando fixamente para o interior do fogo.

Primeiro quero que mate esses três homens. Matem-nos de forma lenta e dolorosa..Matem-nos de forma que lhe faça sorrir.

Duncan recuou e olhou para baixo, voltando a observar a criatura queimada, assustado, surpreso e excitado com o pedido da mulher.

- Como..Não..Não posso...- Queria, mas lembrou-se de Betha, lembrou-se que suas atitudes trariam consequências futuras. Mas o desejo dentro de si era mais alto. Naquele instante, a sua companheira de alma não estava ao seu lado para controlá-lo. Sempre que o mau interior de Duncan começava a sorrir. Era o rosto angelical de Betha que fazia o monstro adormecer, naquele momento, não havia jaula para prender o monstro.

Você pode...Faça o meu pedido...Por mim...Olhe para mim....Olhe o que eles fizeram comigo...Matem-nos...

Tarde de mais para voltar atrás..Duncan iria encontrar Betha...Mas não agora..Não ainda...

O adolescente sorriu de forma que nunca tinha feito antes. Pela primeira vez deixou o seu monstro interior dominar os seus sentidos, e deixou um sorriso bestial em seu rosto.

Não precisa se preocupar..Você vai saber como encontrá-los.

~~
Duncan estava excitado. Ofegante, seu coração disparava toda vez que ressaltava o que estava prestes a fazer. Aqueles homens não poderia ser perdoados, tinham que ser punidos. E Duncan seria o seu punidor. Estava aproximando-se da pequena cabana que a mulher negra havia dito e se lembrou de Betha. Seu coração voltou a desesperar, não por loucura, mas por amor. Amava sua companheira, mas não podia perder essa oportunidade. Pela primeira vez na vida, graças aos desígnios da vida, iria ter a oportunidade de ser o aquilo que acreditava ser o seu verdadeiro legado. Primeira vez, e também a ultima. Prometeu a si mesmo que não iria falar nada para Betha e que também iria fazer de tudo para nunca mais deixar aquilo falar mais alto. Iria alimentar o monstro dentro de si e matá-lo na mesma noite.

Escondido atrás de uma árvore, vislumbrou a pequena cabana. A mesma tinha apenas uma janela e parecia ter apenas um cômodo. Duncan rodeou a árvore e começou a seguir em direção da cabana. No meio do caminho abaixou-se e pegou uma pedra. Procurou bem antes de decidir qual pegar. E levou na mão direita uma pedra grande e de pontas finas. Pontas finas o suficiente para rasgar facilmente a pele humana. E era isso que iria acontecer...

Sente esse desejo ficar mais forte? É prazeroso? Confortável? - Duncan voltou a ouvir a voz da negra em seus ouvidos e continuou caminhando decidido em direção à pequena porta de palha.

A noite era silenciosa e Duncan não teve dificuldade em pular a janela aberta sem fazer nenhum barulho.

Olhou atentamente para o local escuro e viu que o velho de barriga redonda dormia em cima da cama bem ao lado de onde ele estava. Olhou um pouco para o lado direto e abaixou a cabeça, seus olhos estavam bem a cima do semblante enrugado do velho. Ao lado da cama havia uma pequena prateleira repleta de livros.

Vamos..Mate-o...Mate-o...- A voz murmurou na sua mente e Duncan sorriu. Levantou a mão direita e desceu rapidamente contra a cabeça do velho. O sangue jorrou e o velho gritou. Um berro alto e desesperado, mas antes que pudesse entender o que realmente havia acontecido, já estava novamente inconsciente.

Minutos depois Duncan estava sentando em cima do lençol molhado de sangue. Olhando atentamente para frente, sorrindo, sentindo-se alegre como nunca.

Sente-se bem? Sente-se aliviado? Esse é você de verdade..


Duncan sentia-se como nunca sentiu-se antes. Amava Betha, mas também começou a amar aquela sensação. Sorridente, observava aquilo que passou a considerar sua primeira obra de arte. Encostado contra a parede estava o corpo do velho, contudo, não havia pele, apenas carne. Jogado em cima da carne rubra, a pedra que fora usada para raspar toda a pele do vermelho. Esfolação. Duncan havia comprido seu primeiro desejo.

~~
Por que eles a mataram?


Eu sou uma bruxa Duncan....Uma filiorum Merlini...Minha força vai além do que você que imagina.. Mas não posso me considerar imortal, invencível..Eles eram três.

Duncan estava satisfeito, aliviado. Pela primeira vez na vida sentia como se um pesado enorme sai-se de suas costas, deixando apenas a sensação de grandeza. Lembrou de Betha, voltou a preocupar-se com sua amada mas a loucura voltou a ganhar força.

Não se desconcentre..Esquece-a...Ela não pertence ao seu mundo.

- Esquecê-la? Impossível...Não posso esquecer alguém que faz parte de mim...

Também é impossível você esquecer algo que vive dentro de você....

A mulher tinha razão e essa frase fez com que todo o corpo do adolescente estremece-se. Agora, sentindo aquele desejo de satisfação. Sabia que seria ainda mais difícil deixar esses seus desejos de lado.

Você sentiu o gosto de ser você mesmo. -Voltou a dizer a mulher na mente dele.- Não se iluda. Agora sempre irá querer mais e mais.

Duncan sabia que aquilo era verdade. Sabia que havia começado uma batalha que seria impossível de vencer.

Agora aproveite a sua outra chance...Eles vão estar juntos..Dormindo juntos...

Duncan deixou o semblante preocupado de lado e o sorriso bestial voltou a dominá-lo. Nas mãos havia algumas lanças de ferro que havia pegado na casa do primeiro velho.

Os seus métodos são curiosos.. Vejo algo muito interessante nesses seus desejos..

Agora Duncan vislumbrava um casebre, um pouco maior que a cabana anterior. Lembrou de sua amada e seu coração disparou.

Não se preocupe com ela nesse momento. Ela está bem. Faça o que tem que fazer. Depois pense nela.

Os dedos fecharam-se firmemente contra as lanças. Aproximando-se cautelosamente da porta de madeira. A bruxa havia dito que ambos dormiam juntos, iria matá-lo no mesmo tempo. Devagar levou a ponta da lança até a porta e a empurrou. A mesma estava apenas encostada e abriu-se facilmente.

Adentrou o lugar escuro e encontrou-se na cozinha. Ignorou os móveis da sala e foi em direção à única entrada dentro da casa. Parou no meio do espaço que separava o quarto da sala e viu os dois homens deitados abraçados.

- ABERRAÇÕES!- Gritou o adolescente. Os dois homens abriram os olhos e antes que levantassem sentiram seus corações sendo perfurados. Á cima deles havia um adolescente, segurando em cada mão as lanças que o mataram. Duncan fechou os olhos e suspirou forte. Fazendo movimentos circulares com as lanças no meio do seus peito.

Agora ambos os corpos mortos estavam de costas um para o outro. Contudo seus corpos estavam conectados, presos a lanças que perfuravam ambos os corpos. Pegando o peito de um e atravessando as costas do outro. Uma das lanças perfurou o pescoço do mais jovem e saiu pelo olho do mais velho.

Duncan sentia-se em um sonho. Sua verdadeira utopia. Estava realizando seus sonhos, estava satisfazendo suas vontades e estava apreciando sua segunda obra de arte.

É prazeroso não é? É confortável não é?

- Sim..E eu preciso volta.. Preciso encontrar Betha...

Você não precisa encontrá-la.. Vou levá-lo até ela.. Mas eu preciso que você continue sendo o que você é...
 
- Ser o que eu sou? É...É impossível..... Não posso vivendo com Betha...Ela é fraca..

Exatamente.. ela é fraca..Você não pode viver com ela..

Naquele momento, se Duncan estivesse perto da mulher queimada, ele iria ter o maior prazer em pisar em cima dela. O ódio que sentiu da mesma quando ela falou aquilo o fez levantar e olhar os corpos inertes presos as lanças. Não podia simplesmente ouvir uma besteira dessas.

Pode se aborrecer...Você é um monstro..E monstros não vivem com donzelas. Continue olhando exatamente para o que está olhando. Olhe o que você fez. Olhe a sua verdadeira natureza... Não pode ignorar isso.
 
Era verdade. Ele sentia o desejo proibido agora ser ainda mais forte dentro de si.

Fique comigo.. Eu posso te dar mais deles..Eu posso acompanhar a sua loucura, eu posso dançar com você.. Mas eu preciso viver..Eu preciso de uma vida.

- Ficar com você..
 
Duncan viu-se confuso. Irritou-se com a ideia de estar confuso. Mas não podia deixar de pensar no assunto. Amava Betha, mas sabia que estava cada vez mais impossível de acompanhar a sua amada. Sentia seus instintos ficarem cada vez mais fortes, e sabia que era uma bomba relógio. Sabia também que as coisas iriam piorar agora.

Fique comigo...Fique comigo e eu irei lhe acompanhar...

-Como...Para isso terei que abandonar Betha..Mas eu a amo...

Você não precisa abandoná-la.. terá a ela e a mim...

- Impossível..

Não...Não é..Dê a mim o corpo dela, dê a mim a vida dela e eu viverei no lugar de Betha.

Duncan viu-se surpreendido..

Nunca tinha ouvido algo tão fora de sua realidade, contudo tão tentador. Matar sua amada....Por outro lado viver livre de suas correntes. Livre para ser aquilo que tem que ser. Impossível..Aquilo era impossível de ser feito. Nunca iria conseguir matar sua amada.

Mate-a. Não se iluda, nunca irá viver com ela. Ela é boa, gentil, fraca. Ela é fraca. E pessoas fracas não vivem muito tempo perto de monstros.

Duncan viu-se totalmente perdido, desnorteado. Não podia simplesmente ignorar o que ela estava falando, mas também não podia fazer aquilo que era proposto.

Você vai encontrá-la. E matá-la..Quando fizer isso. Diga essas palavras no ouvido dela.

~~

Repentinamente Duncan acordou. Os olhos abriram-se e ele vislumbrou o céu negro. Tentou se levantar e sentiu um peso no seu peito. Moveu o braço e sentiu que havia um corpo deitado em cima de si. Respirou mais forte e sentiu o cheira de Betha..

Um pesadelo? Não..Impossível...Real de mais... Eu sinto...Eu sinto-me aliviado..Eu ouço ele gritando para trazê-la de volta a vida...Mas eu..Eu não posso...

Cuidadosamente tirou Betha de seu peito e a colocou no chão. Olhou-a atentamente. Realmente estava tentado a matá-la..Não ele, mas o seu monstro interior pedia por isso. Griava por isso..e agora... era ainda mais difícil ignorá-lo. Duncan sabia que algo teria que ser feito..Depois daquela noite..Nada seria igual, algo dentro dele tinha mudado.Algo pra pior.

Não sei se foi só sonho....Ele pensou..Mas não vou conseguir lutar contra esse desejo...É muito forte.... Duncan virou o rosto e assustou-se quando percebeu uma barra de aça ao lado da pequena fogueira.

É a arma para eu matá-la....

Duncan levou a mão até a barra pontiaguda e aproximou-se da garota..

- Desculpe-me..Eu fui fraco..Eu cedi...Eu cedi e ele é muito forte...O desejo é muito forte...

Duncan murmurou enquanto algumas lagrimas escorriam pelo seu rosto. Infelizmente ele havia entrando em um caminho sem volta. E agora teria que ser feito.

- Eu te amo.Eu à amo...Mas eu sou um monstro...E eu precisdo te proteger...

Terminou a lamuria, deixando que as lagrimas escorrem a vontade. Levantou a ponta da barra e desceu com toda velocidade. Fazendo a barra perfurar a própria barriga.

-Eu preciso protegê-la...Até de mim mesmo..Eu tenho que te proteger...

Aos poucos foi fechando os olhos...Logo iria adormecer e seus desejos iriam sumir para sempre. Finalmente iria encontrar a sua paz.
 


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