quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Vitta Bellum : O poder da informação - 03:Decisão.

3: Decisão.

PS: Todos os grupos citados existém

O mundo é um filme que não para: Onde personagens nascem e morrem a cada segundo. No mesmo momento em que um bebê está vindo a este mundo, com certeza uma criança a milhares de metros de distância está sendo vendida, abusada, torturada e humilhada pelo Tráfico de Humanos.
No mesmo momento em que um governador está chegando a sua mansão no seu carro do ano, levando para sua família mais dinheiro do que eles precisavam; um garoto de rua está vagando pelas ruas, com frio, usando uma blusa suja que achou no lixo e uma calça cheirando a mijo. Normal, está usando a calça mais de um mês.
A terra não para, as pessoas não param e o jogo de manipulação do grande escalão continua sugando as almas das pessoas. E foi esse mesmo pensamento que levou a Marlon tomar a decisão daquela noite.

No mesmo momento em que Artur se deslumbrava na festa com seu padrinho e conhecera Alessa, Marlon percorria sua própria estrada, seu próprio caminho e seria nesse dia que as escolhas de ambos iriam transformar tragicamente a vida deles: Para melhor? Pior? Vou deixar você definir por si mesmo.

- Achei que ia ficar em casa, não consegue ficar um fim de semana em casa? – Perguntou a mãe de Marlon enquanto fitava o jovem negro se arrumar. Dona Maria era uma mulher morena de corpo esguio e corpo fino. Semblante pequeno e olhos caídos, talvez cansados de tanto lutar e pouco ganhar (Normal, estamos no Brasil). Contudo sempre tinha um sorriso solene quando se tinha algum motivo, Não era uma mulher amarga, talvez um pouco cansada.

- Ficar em casa pra que mãe? Vou pro RAP RAP RAP – Marlon tinha uma expressão jovial e animada. Mal tinha terminado seu café e já enfiara no banho. Mal entrara no banho e já sairá!

- Vai pro seu rap com banho de gato é!

- Se eu demoro a senhora reclama que vai queimar a extensão. Se eu tomar banho rápido fala que foi banho de gat..

Marlon não teve a oportunidade de terminar de fala. Sua mãe o cortou antes.

- Ta bom menino, tá bom! Vai pro teu RAP RAP RAP do jeito que quiser! – A voz dela suou tão fina e engraçada que fez Marlon rir, deixando ambas as mãos sobre os joelhos e quase se debruçando.

- Como é Mãe? RAP RAP RAP – Marlon tentou imitar sua mãe mas tudo que conseguiu foi deixa-la ainda mais nervosa.

- Vai, some daqui diacho e vai pra onde tu quer ir! Se cuida eim! Se chegar em casa tarde vai dormir na rua!

- Tranquilo mãe. Vou chegar cedo.  – O moreno responde de forma tão calma e convicta que a coitada de sua mãe acreditou.

- Tenta não me acordar. Amanhã vou trabalhar cedo!

- Não vou acordar a senhora, a senhora já vai tá acordada. E por que vai acordar cedo?

- Eu vou trabalhar amanhã... É domingo mas pobre tem que ralar!

Marlon deixou o sorriso desaparecer do rosto. Era desagradável saber que sua mãe teria que trabalhar em um domingo enquanto ele iria sair para uma festa no sábado. Contudo...O que ele poderia fazer? Trabalhar sendo que está prestes a fazer 16 anos ainda. Já pensou nessa possibilidade mas sua mãe não deixara. Vai estudar, vai estudar! É isso que eu quero que tu faça agora, estudar! A voz dela ecoava em sua mente como se ela estivesse falando.

- Como assim? Já vou estar acordada menino?  -A voz dela o tirou de seu devaneio, quebrando a efêmera tristeza.

- Bem, vou chegar cedo mãe. Oito da manhã, nove por ai! – Respondeu Marlon, deixando um sorriso que fez sua mãe ter vontade  de quebrar uma vassoura na sua cabeça.

~~

- Como é essa fita? Salve Rima? – Perguntou Marlon curioso sobre a festa que estava indo.

- É de RAP mano.. Tem vários grupos de RAP daqui da baixada que vai cantar lá.
A Marina Pereira do C.E.S e o T013 vai tá em peso lá! – Renan era dois anos mais velho que Marlon, branco e magro. Um pouco maior que um metro e setenta.

- T013? C.E.S – Perguntou Marlon perdido.

- Território 013 e Centro dos Estudantes de Santos e Região

- Hm...C.E.S entendi...E esse Território 013? – Murmurou Marlon, ainda sem entender direito.

- É como se fosse um tipo de grupo, Clâ, Guild, Tribo...É essa fita ai mano!

- A tá entendi!

Ambos estavam sentados na poltrona dos fundos da lotação 42.

- Onde que é mesmo? – Continuou Marlon, querendo saber mais sobre a festa.

- Perto do Extra.  Quando agente chegar tu vai vê! Mó brisa lá mano e tem uns cara que toca um instrumental MONSTRO!

Marlon sorriu e olhou pela janela. O ônibus agora saia da Rangel Pestana entrando na Ana Costal. Nesse mesmo momento Marlon olhou para uma pequena feita para crianças brincarem de motoristas. Dentro dela havia uns dois moradores de rua e novamente, sua felicidade esvaiu-se. Voltando á sua mente que: Enquanto ele estava indo para uma festa, muito provavelmente outras pessoas estariam passando fome, morrendo....

- Vish mano tá brisando? – Perguntou Renan depois de ficar esperando a resposta de Marlon. Marlon nem tinha ouvido..

- O que?

- Vish.. Que louco.... Onde tá aquele teu amigo nerd?

- O artur?

-  é Aquele que viajava nos livros. Ele curte RAP também né? Achei que ele iria vim!

Realmente. Artur também viajava no Flow do RAP, mas teve que ir a outro lugar. A conversa deles passavam por sua cabeça e percebia, que ali algumas coisas iriam começar a mudar. Marlon insistiu para Artur ir mas seu amigo disse que não poderia. Teria que ir a uma festa com seu padrinho e seria muita desfeita ele não ir. Por mais que duas pessoas sejam amigos, a vida na maioria das vezes sempre nós leva para caminhos diferentes. Por mais que sejamos amigos, não gostamos das mesmas coisas, não temos uma mesma família, mesmo trabalho, mesmas necessidades.. São essas coisas que atrapalham muitas amizades que poderia ser duradoras... Mas ele sabia que uma amizade de verdade não acabava por motivos assim. Por mais que aja distância um dia. Amigos são amigos: Ao menos é assim com os verdadeiros.

Todo esse pensamento passou em menos de um segundo e logo Marlon voltou a responder.

- É ele mesmo. Artur foi para outo lugar. Responsabilidade dele.

- Responsabilidade no sábado? Mano... O RAP é o RAP né! – Renan respondeu como se quisesse falar, Não troco o rap por nada.

- É né... Mas cada um é cad......

Repentinamente o ônibus parou fazendo com que os dois sentissem seus corpos sendo jogados um pouco para frente. Não foi um acidente, mas uma para brusca.

- PORRA MOTO! TÁ METENDO O LOCO! – Gritou Renan enfurecido.

- Desculpa, o cara parou do nada. – Respondeu o motorista em um tom sem graça.

Renan não se deu ao trabalho de responder.

- É foda mano... Bora é no próximo!

Eles descerem em frente ao Extra da AV. Ana Costa e foram em direção do começo da Av. Menos de uma quadra de distância havia dezenas de jovens parado diante uma pequena casa. O som estava rolando e a fumaça pro ar também.

~~

- Mano que brisa esse instrumental! Bem que tu disse! – Os olhos de Marlon já estavam vermelhos e ele imaginou o que aconteceria se sua ......Não adianta pensar nisso. Que brisaaa!

Marlon e Renan moviam seus corpos de um lado para o outro enquanto os Operários do Som faziam sua magica com seus instrumentais. Marlon sentiu o Flow crescendo dentro da sua mente e a vontade de rimar quase explodindo. Era algo que tava em sua alma, algo que crescia enquanto ele crescia e não tinha  como controlar ou esquecer. Eu quero cantar RAP!
Pensou o pequeno criolo brisando naquele som. Aquela vontade iria se tornar meta em poucos minutos, quando ele ouvisse MC’S da baixada cantando ali, na sua frente. Pessoas como ele, humanas como ele. A única diferença até aquele momento era que: Essas pessoas tinham metido a cara, tinham se jogado para agarrar seu sonho. ORA, EU SOU NOVO, TEM TEMPO AINDA!

O tempo passou tão rápido que ele nem percebeu e de repente estava ouvindo os MCS cantando. As atrações foram: DJ CAMPEBEL, THALES PRADO, TON 013, THIAGUERA BRANDÃO, KTARSE, MAYARAH MAGALHÕES, PRETA RARA, VOZ DE ASSALTO, CBD- CRIAS DA BAIXADA, SENSIMILLA JHON E CARAS, LOS 13’S

Marlon sentiu-se em um sua utopia. Estava ali, na frente de pensadores, não faladores.  Pessoas convictas de seus sonhos e de sua vontade de falar o que não é o certo. Afinal não é essa mensagem do RAP? Ser a voz daqueles que não são ouvidos? Transforma o manifesto contra a corrupção,  o desleixo com a periferia e com a vida humana em Arte?
Naquele momento, enquanto as letras invadiam seu consciente, enquanto ouvia as musicas sabia que era isso o que tinha que fazer. Odiava milhares de coisas, mas quem não odiava? Contudo ele apenas não odiava: Não aceitava e queria fazer algo contra aquilo... Então,  diante tudo aquilo, naquele lugar. Ele se decidiu.
Vou ser RAPPERS!

Depois de todos os Rappers cantarem. Marlon seguiu para o canal dois. Logo entraria no 181 e voltaria pro morro, seu lar, sua paixão.. E enquanto andava pelas ruas escuras de Santos observou algumas crianças de rua transitando de um lado para o outro e uma musica que ouvira há minutos antes voltou a martelar em sua cabeça!

A musica falava sobre o ridículo dos nossos governantes. Enquanto pessoas morriam de fome, enquanto hospitais precisavam de reformas, mais médicos, as periferias precisando de mais escolas e maior conteúdo de aprendizagem.. Eles tavam organizando uma COPA DO MUNDO.. Tirando milhões daqueles que realmente precisavam.

- Estou decidido..Não é mais objetivo..É META!




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