quarta-feira, 10 de julho de 2013

Vita Bellum : 02: A descoberta

02: A descoberta

Depois daquele dia, por mais que Artur dissesse a si mesmo que não, algo tinha mudado. Coincidência  ou não, ele tinha tido um estranho sonho com um cavaleiro e com uma coruja e na mesma manhã tinha tido um encontro peculiar com um monumento vinculado com a Ordem Maçônica.  Para as outras crianças de sua idade, tudo não passava de besteiras, assunto inútil. A maioria preferia gastar seus tempos jogando vídeo games e assistindo desenhos e filmes ao invés de se ficar pensando em assuntos desse gênero. Contudo sentia que algo o levava até aquelas coisas. Sabia pouco, mas sabia que a FrancoMaçonaria era cingida de Misticismo e símbolos. E aquilo o deixava hipnotizado.

Fausto percebeu o olhar frustrado de Artur e disse para o garoto não se sentir tão confuso e com medo. Tudo vai se explicar com o tempo.
­Disse o padrinho do garoto deixando-o ainda mais confuso.
Por que ele dissera aquelas palavras naquele momento? Artur nem dissera seu pesadelo para ele ou para a sua mãe.
Porém antes mesmo de Artur argumentar algo Fausto empurrou o garoto para frente, obrigando-o andar e a continuarem o passeio pela orla da praia.

Andaram calmamente, conversando e sempre que Artur puxava assunto sobre a Maçonaria seu padrinho mudava de assunto. Caminharam ao lado do maior jardim frontal de praia em extensão do mundo.

 A orla marítima se estende por sete bairros da cidade: Aparecida, Boqueirão, Embaré, Gonzaga, José Menino,Pompeia e Ponta da Praia, e é uma grande fonte de recursos biológicos e espécies de flores e pássaros. A preservação e o cuidado com a flora do ambiente praiano santista, permeado de palmeiras e amendoeiras, são resultados de um trabalho em conjunto dos departamentos de meio-ambiente da região muitas vezes ligados à universidades ou as instituições biológicas.  No final daquela tarde, Fausto convidou Artur para uma festa que teria em sua casa no próximo spabado. O garoto aceitou claro. Iria conhecer pessoas novas e teria muitas coisas gostosas para comer, fora a piscina enquanto pegava sol.  Mas ele nem imaginava oque tipo de pessoas estariam naquele lugar.

A semana do adolescente andou conforme o cotidiano. Escola e muita loucura com seu amigo Marlon. Todos os dias após as escolas saiam e encontravam os outros colegas nas ruas do morro e organizavam suas brincadeiras. Esconde esconde salva o mundo. Pico na bola e outras formas de diversão. Mas em momento algum conversou sobre o assunto com seu amigo. Tinha seus próprios devaneios, umas ideias que acreditava que seu amigo iria chama-lo de louco, então preferiu guardar para si esses assuntos.

A semana passou voando e o dia da festa que Artur tanto esperava chegou.

- Como o garoto prodígio da família está? – Perguntou Fausto parado ao lado do seu carro do ano. Um Fiat Uno preto.

- Daquele jeito padrinho...- Respondeu o garoto e depois hesitou, lembrando-se que fausto era um homem culto e não usava gírias. – Bem padrinho, muito bem. – Voltou a responder, tentando disfarçar o vicio das gírias.

- Não mudar o seu jeito de falar por minha causa Artur. – Disse Fausto quando o garoto parou a frente dele, levando a mão até os cabelos castanhos do garoto e bagunçando-os. – Ao menos não na minha frente. Mas tome cuidado aos terceiros...

- É vicio padrinho...- Artur sorria e olhava Fausto – A forma que os cultos conversam são diferentes de nós!

Fausto deixou uma risada fugir de seus lábios e fitou seu afilhado com um sorriso sincero e carinhoso. Artur era um garoto inteligente e observador. Isso vai faze-lo se transformar em um grande homem.

- Nos, os cultos? Hhahaha essa é boa Artur...- Continuou o homem esguio enquanto abria a porta do carro e observava o garoto ir para a outra porta.

- Só nunca se esqueça de uma coisa! – Dissera o padrinho enquanto sentava na poltrona do carro e fechava a porta esquerda, enquanto o garoto fechava a outra porta. – As palavras, gírias e formas de expressões são iguais a roupas.

- iguais a roupas?  - Perguntou Artur sem entender.

- Exatamente. Semana passada você estava vestido como?

- Bermuda e camisa regata.. – Respondeu o garoto um pouco que perdido.

- Exatamente. Hoje você está de jeans e uma blusa social preta. Por quê? Por que está indo para uma festa. Semana passada você foi a praia..

- Cada lugar tem um lugar diferente para se vestir. Verdade..- Murmurou Artur, colocando o cinto de segurança e refletindo as palavras do Padrinho.

- A forma de você se expressar, as palavras. São iguais, em cada lugar irá usar um vocabulário diferente.

- Verdade padrinho... Verdade..Interessante isso, juro que não vou me esquecer!

~~

Quando chegaram ao local Artur ficou nervoso. A festa acontecia em um lugar perto de sua casa, mas pouco nunca frequentado por ele. O lugar mais conhecido como ‘’CANTÃO’’ no Morro da Nova Cintra era um bairro nobre. Dezenas de mansões ficavam naquele lugar e sempre haviam festas caras naquelas casas. Naquela tarde de sábado não seria diferente.  Fausto parou o carro atrás de outros três que esperavam na fila para adentrar no  estacionamento da mansão e enquanto isso ele pôde vislumbrar as dezenas de pessoas diferentes que estavam naquele lugar. Contudo todas muito bem vestidas, mulhere, homens, adolescentes. Muitas pessoas diferentes mas todas do mesmo nível social, menos ele mesmo. Artur se lembrou de sua mãe e entendeu por que ela recusou o convite.

- Não é lugar para mim...Nem para você Artur, mas ainda é novo, vai saber se adaptar. É até bom para você entender do que se faz a vida..

Quando sua mãe lhe falou aquilo, Artur se perdeu, não imaginava por que ela dissera tais palavras, mas vislumbrando aquelas pessoas um raciocínio logico deu a ele a resposta.

Essas pessoas são diferentes, elas se vestem bem e tem carros caros..Elas precisam de dinheiro, muito dinheiro para comprar isso...

Dinheiro? Seria de dinheiro que era feito a vida? Talvez, mas sabia que a mãe não pensava desse jeito. Com certeza não, pensou um pouco mais e lembrou de quando ela brigava com ele toda vez que ele não queria estudar.

- Você quer ter dinheiro? Quer tudo de bom e melhor? Então precisa estudar menino, precisa de conhecimento!

Conhecimento. Era aquela a resposta. Seu padrinho era um psicólogo, para isso ele teve que estudar a mente humana e agora ele tinha dinheiro e influencia..
Conhecimento...É isso que eu preciso então?

- Vamos Artur! – Seu padrinho o cutucou já com o carro desligado e com a porta aberta. Artur despertou de seu devaneio e saiu do carro.

Olhou em volta e se surpreendeu com a imensidade daquele pátio. Deveria ter uns 100 metros quadrados e vislumbrou a piscina. A tarde estava quente e agradável e imaginou como seria bom entrar na piscina.

- Fausto? – Chamou Artur.

- Pode falar!

- E a piscina? Ninguém vai entrar nela? – Perguntou o garoto desanimado, percebendo que a mesma estava vazia.

- Essas pessoas são diferentes....Não ligam para essas coisas.. Mas se você quiser entrar!

- Não.. não.. tudo bem! – Respondeu Artur desiludido. Decepção e desperdício.. Pensou enquanto olhava dezenas de pessoas indo e vindo. Viu muitas mulheres elegantes e sedutoras. Decepcionante e surpreendente... Deus, estou no paraíso?

Na maior parte do tempo acompanhou seu Padrinho. Não conhecia nenhuma outra pessoa e não teria o que fazer, então para onde Fausto ia, Artur estava atrás. Até que um amigo do seu padrinho salvou o homem daquela sombra.

- Artur, essa é minha filha, Alessa! – Disse Rodolfo, um senhor um tanto que gordo e calvo. Os olhos de Artur congelaram quando fitou a garota. Deveria ter Um metro e sessenta, magra, pele pálida, longos cabelos negros e olhos azuis.

-Um anjo no inferno...- Disse o garoto. Mas não percebeu que suas palavras foram mais que um sussurro, deixando que todos escutassem. A garota deixou um tênue sorriso transparecer e Rodolfo e Fausto riram.

- Temos um futuro poeta aqui Fausto? – Brincou Rodolfo e Artur ficou vermelho e sem jeito. Percebendo que tinha deixando seu pensamento fugir como palavras.

- Ele pegando amor pela leitura ultimamente..Deve ser a influência de A Divina Comédia..

-Dante Alighieri..- Murmurou Alessa, adentrando na conversa. – Que surpresa.

Artur ficou sem jeito, perdido. Nunca tinha conhecido uma garota tão bela como aquela. Seu rosto era fino, proporcional ao seu corpo esbelto e seus lábios tão vermelhos que pareciam seduzi-lo. O garoto não respondeu, estava hipnotizado.

- Vamos Artur. O gato mordeu sua língua? Não vive reclamando que só conhece garotas burras? Eis uma companhia interessante para você!

- É..É Padrinho...- Sussurrou o garoto ainda sem jeito. Muita areia para meu caminhãozinho.. Muita areia...

- Minha filha vai completar 18 anos mês que vem. Façam uma amizade e estará convidado para o aniversário dela Artur. – Rodolfo quem falou agora e chamou seu amigo para deixarem eles a sós.
Artur passou a festa inteira ao lado de Alessa. A garota tinha uma expressão séria e quase não ria. Toda vez que conseguia faze-la rir tinha vontade de pular e comemorar. Conversaram sobre diversos assuntos e principalmente sobre livros e filmes que era a maior paixão de dos dois.

- Alessa.. Posso dividir uma coisa com você? – Artur não sentiu vontade de conversar sobre o assunto da semana passada com seu amigo nem com sua mãe. Mas mesmo assim tinha uma necessidade de conversar com alguém sobre o assunto e por algum motivo, sentiu-se a vontade para conversar com a garota.

Alessa trajava um vestido escuro que ressaltava ainda mais sua pele e seus olhos azuis. Ambos estavam em pé em frente a piscina. Naquele momento a garota estava olhando a lua mas quando Artur disse aquilo passou a fita-lo com uma expressão confusa.

Dividir algo comigo? Que moleque estranho... Ela pensou, mas aquiesceu com o rosto, tentando não demonstrar o que pensava.

- Semana passada eu tive um sonho estranho....- Começou ele, olhando para a piscina e fitando o reflexo da lua. Não gostava de conversar sobre esses assuntos. Parecia um louco sonhador..

- Você é daqueles que se apega aos seus sonhos? – Perguntou a garota um pouco relaxada. Achei que ele ia falar que era gay...

- Não falo muito sobre isso mas sim....

- Que tipo de sonho?

Artur narrou todo o sonho para a garota e quanto mais ela falava, mais ela sorria e mais parecia estar interessada no assunto.

- Sonhou com uma coruja.... Sabe o significado de coruja?

- Não..- Confirmou ele, fitando os olhos azuis da menina..

- A coruja significa sabedoria. É um animal que é capaz de ver a noite, caçar suas presas enquanto elas mal conseguem enxergar. E graças a essa habilidade é um símbolo de uma Sociedade Secreta.

Artur ficou ainda mais apaixonado por aquela menina. Se antes sua beleza e conhecimento por livros fizera seu coração bater mais forte. Agora tinha certeza, iria amar aquela menina.

- Sociedade secreta? Que tipo de sociedade?

- A francoMaçonaria! – Respondeu a menina veemente e olhando nos castanhos de Artur.. – Coincidência não? Você sonhar com essa coruja, com um cavaleiro e no mesmo dia conhecer um pouco sobre a Ordem Demolay.

Artur não tinha falado sobre os detalhes que seu padrinho havia lhe dado, então como ela sabia o nome da Ordem?

- Como você sabe disso? – Perguntou e se lembrou da mesma pergunta que fez ao seu padrinho... Ela era dois anos mais velha que ele então não aceitaria a mesma resposta que o velha lhe dará.


- Olhe em volta..- A garota virou, vislumbrando as dezenas de pessoas que iam a viam. – A maioria delas são Maçons, assim como meu pai e seu padrinho!


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